sábado, 6 de novembro de 2010

Inebriante - 2º parte




Não nós falamos até o final da música, estava tão envolvida no balanço do seu corpo, não queria estar em outro lugar, que não fosse ali, ele puxou a conversa na verdade, poucas frases. Foi ainda refletindo sobre esses assuntos, com os olhos também vidrados no homem, que eu deixei levar. Dançamos. Muito. Movimentávamos conforme o improviso, se cheirando à medida que seus corpos exigiam. Éramos rápidos, na pressa angustiada do pleno conhecimento. Em poucos minutos aquele homem desconhecido, tinha me seduzido de uma maneira desconhecida. Pareciam os dois destinados ao encontro daquilo, e para mim, o bar com poucas expectativas era agora uma revelação. Dançamos. Mais. Com gosto. Pressionada ao corpo sensual do outro, tendo a certeza de que era mesmo diferente. Respirava ofegante a cada vez que o sentia emudecer frente a sua sensualidade. Nessas horas tinha medo, pois o meu domínio desaparecia. A noite estava acontecendo “tranqüila”, cheia de amasso antes das perguntas. Foi ele quem começou, indagou perto do ouvido provocando leves calafrios. Eu sorri e aceitei o convite.                                                                                                           
Fomos para a casa dele animados, antecipando os momentos de descontração. Era quase 4 da manhã quando ele abriu a garrafa de champagne, no loft bem localizado, de frente para praia. A janela panorâmica que dava acesso a vista bem esplendorosa. Fechei os olhos e imaginei a minha vida daqui a cinco anos com aquele rapaz, dois filhos e uma felicidade inexplicável, ainda estava vislumbrando essas cenas quando senti as mãos fortes dele tocarem meu pescoço. Apertei mais os olhos, tentando manter as sensações bem fixas, em minha mente. Ele avançou mais um pouco com as caricias, plenamente consciente da rigidez do meu corpo. No inicio desviei do carinho, pedi um pouco de paciência afinal tínhamos acabado de nos encontrar. Ele concordou e apenas deu de ombros – ainda com o sorriso entre os lábios – e me ofereceu uma bebida aceitei. Estava precisando de um estimulo para o que viria. De repente senti perdida e confusa. Não estava mais segura com os olhos do moreno, como se ele não fosse o mesmo de outrora. Ele entrou novamente na sala carregando as duas bebidas. Pareceu surpreso quando eu entornei o copo, senti um gosto estranho, mais continuei sorvendo o liquido com avidez. Fiquei tremula de um momento para outro, estaria nervosa? Ou tinha algo na minha bebida? O moreno perguntou por que eu estava nervosa, se gostaria de remarcar aquela ocasião, nas palavras dele: deixar para a próxima. Me deixaram sem chão. Toda a fantasia se desfez de forma rápida e devastadora. Fragmentos de lembranças estenderam-se e fixaram-se em minha mente. Outros homens, nenhum diferencial. A ela, o dominador era agora como esses todos. Comecei a chorar, odiando o bar imundo a que fora, pelo homem, por si. Com a situação toda, ele ficou sem saber o que fazer. Propôs outra bebida, que eu aceitei. De costas pra mim, voltei pra lucidez. Errado. Sim. Tudo o que viria era torto. Mas e o prazer nisso? Não poderia ser compensatório? Pegar, ceder e ter? Não me faria feliz, física e psicologicamente?                      
Levantei e fiquei de costas pra ele procurando algo na minha bolsa, ele virou, antes mesmo de trazer pela segunda vez os copos, senti uma picada no pescoço; bem por onde a mão esquerda dele acabara de me tocar. Logo depois uma dormência esquisita nos olhos e a sequidão na boca. Foi assim que acordei. Ainda com algumas mesmas sensações.                                                                                                           
Lembro de alguns flashes da noite anterior, ele me carregou pra sua cama ao perceber que todo prazer infinito que a preenchera horas atrás, findara. Que sua intuição estava certa. Aquele D.Juan barato tinha me seduzido provavelmente com a famosa Boa noite cinderela (um coquetel de drogas que dopa as vítimas de seqüestro e abuso) Era mesmo o seu quarto, mas com modificações. Percebi que estava presa com algemas, fiquei desesperada. Ele tinha me algemado na cama com um pano, a cama toda forrada de um plástico que se tomava boa parte de quase todo o piso do quarto. Tive medo. Meu estômago ardia, como que entupido com algo indefinido. Não estava totalmente lúcida. Diante de todo medo ele ainda continuava me entreolhado, decidindo o que iria fazer com sua nova vitima. Tentei erguer o corpo, mas experimentei uma dor cruciante por todo o abdômen. Balbuciei algumas palavras incoerentes, primeiro educadamente, para depois tornar-se violenta. Estava cansada e machucada, tentando entender como perdera o controle. Ele atingiu o clímax ainda rindo, sem nem ao menos tocar meu corpo, mas apenas estimulando o seu e me fitando de longe. O prazer incendiou-lhe por completo. Ele gemia e gargalhava, enquanto eu tentava me acalmar. Talvez o moreno estivesse em busca de sexo, um estranho e nunca visto antes, mas ainda assim: sexo. Pensei como escaparia dali. Pensei em ir até a cozinha, pegar uma faca ou qualquer instrumento cortante. Mas estava presa naquela cama. Lembrei que tinha um estilete na minha bolsa, e por sorte, olhe pros meus pés e vi que minha bolsa, estava a poucos centímetros, na mesa de cabeceira do lado esquerdo da minha mão. Esperei ele sair do cômodo e soltei um pouco o nó da “algema” de pano. Sabia que se ele descobrisse minha tentativa de fuga, me castigaria ainda mais. Após alguns segundos ele voltou e viu a minha tentativa frustrada, eu entendendo que morreria de todo o jeito, simplesmente chorei, ele sentou perto de mim afagou os cabelos, murmurando palavras - para mim -, desconexas. Perguntei se teria direito de saber o motivo de tanta maldade e ele respondeu da relação domínio-controle e isso tudo era.
À medida que o sol descia (provavelmente o crepúsculo), esse ritmo diminuía e meu medo só aumentava, e o moreno assistia a tudo petrificado. Acho que ele ficou com medo de ter cometido algum erro de julgamento, de que talvez este fosse realmente especial. Então, ele levantou-se calmamente recuperando-se da entrega ao prazer, e dirigiu-se a cozinha. Já tinha organizado previamente todos os materiais que usaria. Despido de qualquer consciência pegou seus instrumentos e voltou ao quarto com uma faca na mão convicto de sua decisão.                                                                                     
Era o meu fim e não foi preciso repetir.


(Decidi coloca-ló em duas partes apenas)
Escrito em Outubro/2009

Um comentário:

  1. Ai guria, quanto suspense! Confesso que no começo tava achando lindo, legal, sabe. Não esperava esse final assim trágico, melfeitor. Fiquei com pena da menina. E sabe, que esses casos são um pouco comuns, tenho uma amiga que foi vítima do Boa Noite Cinderela. É triste, né?
    Adorei! Tens escrito cada vez melhor, de verdade.
    Beijos, minha ariana!

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